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Reynaldo Mauá Júnior - GE - Novelinha


Novelinha.
Foi uma união que tinha tudo para dar certo. Malu, moça inteligente, criativa, trabalhadeira e Bráulio, moço do bem, estudioso da realidade humana, funcionário público. Conheceram-se nessas festas agropecuárias do interior. 
O destino, parecia, confabulava para que o encontro dos dois acontecesse de forma rápida e impulsiva. Malu queria um pouco de afeto e estabilidade em sua vida, vinda de um casamento estragado por incompatibilidades generalizadas; Bráulio, queria uma família estável, que desse continuidade aos seus desejos de tranquilidade e harmonia. 
Nessa aliança, Malu entrava com sua jovialidade e sobrenome tradicional, quase uma “grife” de linhagem, e Bráulio, contribuiria com sua estabilidade funcional e um bom salário. Era a fórmula certa para um matrimônio feliz.
O tempo foi soltando as amarras desse barco que, aos poucos, foi se distanciando do porto seguro imaginário. As marolas transformaram-se em pequenas ondas, depois em agitadas oscilações, arrebentando em vagalhões assustadores e impossíveis de navegar.
Malu tornara-se indelicada, impertinente, pedante, controladora, irritadiça, rude e altamente desagradável para com Bráulio, que se mantinha inerte, impotente, desanimado, esgotado, frouxo mesmo. Cada um, à sua maneira, querendo controlar uma situação que se apresentava irrefreável. A paixão, se é que um dia houvera, desaparecera por completo, afundada num mar de remorsos, dor, pesares e contrição. Um final há tempos anunciado.
Após uma noite de bebedeira e reclamações num bar qualquer, Bráulio chegou em casa decidido. Ante a chuva de impropérios lançados por Malu, em função do estado etílico, Bráulio, com a voz direta, mas pastosa, arrematou com uma simples frase, treinada mentalmente por horas: “Amanhã me vou embora desta casa!"
Que ironia do destino. Bráulio saiu de casa, da vida de Malu, das tristezas cotidianas, mas Malu não se arredou da vida de Bráulio. Tomou como resolução primordial de mulher abandonada, atazanar para sempre a já infeliz existência de Bráulio. E assim fez.
Não dava sossego ao coitado, no emprego, com os amigos, nos bares, nas igrejas, nas tentativas de Bráulio de se ajeitar novamente com outra parceira, em qualquer circunstância à qual Bráulio se lançava. Se juntos estavam em um purgatório, agora era o inferno.
Mas a realidade da existência, além de justa, também é cruel. Muito tempo de negativismo, rancor e, mesmo, ódio, tem seu preço. É como engolir veneno e querer que o outro morra. É como ter o tempo todo ao seu dispor e viver só para o outro. Assim aconteceu com Malu. 
Viveu para arrasar os dias de Bráulio, agia para humilhá-lo e desacreditá-lo perante uma sociedade que nem ligava mais se estavam juntos ou separados. Abdicou de seus prazeres frugais e simples para submergir num lamaçal pantanoso e escuro da vingança. Esqueceu-se de viver sua própria vida, perdeu sua memória pessoal, isolou-se até o apagar da própria chama. Um arremedo de ser humano, um zumbi.
Bráulio encontrou outra pessoa, recuperou sua autoestima, atira-se a novos projetos, novos ares e lugares. Parece que agora sabe o que é ser feliz e gostou do resultado. Cada um usufruindo o prêmio que lhe cabe.



Reinaldo Mauá Júnior – educador por opção, escritor por afeição. Venceslauense por nascimento, araçatubense por adoção. Nascido no ano do Jubileu “do grande retorno" e do grande perdão. O tempo só faz estimular e provocar minha emoção. Participante do Grupo Experimental por pura deleitação. 



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