Dedo indicador
Por trás do dedo indicador, pousado sobre os lábios, há um pedido de silêncio.
Cabisbaixo Rafael sai e procura a bola para distrair ou reprimir a vontade de chorar. Olha para o seu dedo indicador e com o outro aperta-o encolhendo. Ao entardecer ocupara lugar à mesa, pensou antes de começar o jantar:- Não falarei nada, nem assistirei televisão e irei dormir antes das dez. Seus pais tagarelavam um assunto que parecia não ter fim; porém se tocaram que estavam a três.
- Que aconteceu com esse menino? Indagou o pai.
-Filhinho você está sentindo alguma coisa
?- insistiu a mãe.
-Filhinho, fala!
Silêncio absoluto.
Ele está doente Daniel, vamos levá-lo para o hospital.
Ao entrar no hospital, o menino depara com um quadro de uma enfermeira com o dedo indicador igual ao de sua mãe, voltado para os lábios.
O médico viera atende-los:
- Olá garotão, fala para o titio onde está doendo?
Quanto mais o médico insistia, mais Rafael travava os dentes. Fala que o titio dá um doce. Doce! Qque vontade, mas o que estava acontecendo mesmo era greve de silêncio.
Novamente Rafael aperta o seu dedo e desta vez com mais força, expressando nervosismo.
Rafael está bem, naturalmente parece descontente com alguma coisa: refletiu o médico.
- Fala, filhinho, para a mamãe o que aconteceu, o que você deseja.
Rafael olha para o médico e diz:
Quero aquele quadro.
Filhinho, só os hospitais que precisam desse quadro. Como chama esse dedo doutor? indicador.
Rafael fixa o olhar para o médico com o dedinho esticado diz:
- Será que serve para dizer que estou cansado de vê-lo pedindo para eu calar a boca, não pode, sem falar por que, já pra cama.
Serve para perguntar também, Rafael.
-Agora por favor, sirva-me o doce, doutor.
Carmen SÍlvia da Costa, 06/02/1953, Araçatuba agente de organização escolar. Trabalha na EE Nilce Maia Souto de Melo. Já publicou textos noutras Experimentâneas. Participa do Grupo Experimenal da Academia Araçatubense de Letras
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