Ora-pro-nóbis, matai a fome dos brasileiros
Tenho um amigo que depois de velho virou esotérico, não
posso dizer que é vegano, mas anda magrinho, magrinho, quase transparente.
Como ando plantando, em vasos, plantas medicinais, aquelas
usadas por meu bisavô que era benzedor, esse meu amigo me deu uma muda de
ora-pro-nóbis.
O nome da planta é uma expressão latina e está ligado à
Igreja Católica, e em português significa "rogai por nós", resposta à
ladainha de Nossa Senhora: "Santa Maria, rogai por nós. / Santa Mãe de
Deus, rogai por nós. / Santa Virgem das Virgens, rogai por nós". E assim
vai.
A planta ora-pro-nóbis é cultivada em abundância nas cidades
históricas de Minas Gerais, que têm uma imagem de santo em cada esquina.
- Comendo uma folha dela, vale por um bife - disse meu
amigo.
E eu não me dei rogado, do jeito que a economia brasileira
está, vai que eu precise apelar pelas formas alternativas de matar a fome.
Aceitei o presente com agradecimentos.
Segundo os maldizentes (e há muitos, inclusive este
croniqueiro), os pobres chamam-na de "ora-pro-nóis", pois na hora da
fome é a salvação; por isso é chamada também de "pão dos pobres".
Como nem só de pão vive o homem, ela tem
a função ornamental: compor cercas vivas.
Assim, quando um pedinte bater à minha porta querendo um
prato de comida, vou sapecar-lhe um raminho de ora-pro-nóbis, explicando-lhe os
tributos da planta.
Vai que cola!
Aí vão dizer por aí que o Consa descobriu a forma de matar a
fome. Isso se os Estados Unidos não tenham registrado a planta como coisa sua
bem antes, royalty, como estão fazendo com as plantas medicinais da Amazônia.
Hélio Consolaro, 70 anos, nasceu em Araçatuba, é professor, jornalista, escritor, membro das academiasde letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Itaperuna-RJ. Escreveu por 15 anos crônicas diárias em jornais de Araçatuba. Foi secretário municipal de Cultura. Já escreveu seis livros.conselio@gmail.com
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