Gabriela se esconde
Um pierrot apaixonado ...
É segunda-feira. Não braba. De carnaval. Seu bloco saíra na
avenida e ela não era porta-bandeira. Muito menos destaque de escola de samba.
Não teve Pierrô, não teve Arlequim. Tampouco estudou ou usou
carmim. Pintara a boca da cor do vestido e fizera o samba-enredo com sua
biografia-choque como o rosa do seu esmalte.
... No dia dois de fevereiro, Maria não brincou na festa de
Yemanjá ...E isso a incomodava.
Bem, o trabalho fora entregue na data. Texto redondinho.
Goal attended.
Falou tudo (tudo?) sobre o tema. Depois de tanto “Feliz
tudo!” no Reveillon...
Acordara com aquelas frases:
“Alegria.” “Alegoria. Carro enfeitado do meu carnaval.”
“Estrela guia. Na cadência do meu astral.”
Iniciara por alegoria.
Singular, feminino, “expressão de uma
ideia através de uma imagem, um quadro, um ser vivo etc.” Ah, esse dicionário.
Presente de seu pai, que era o próprio.
Depois foi a vez de Momo, Sua Majestade primeira e única,
que teve origem... E vasculhando tudo que é momesco lembrou-se de Pedro. A
primeira vez que o viu, com aquela mamadeira pendurada no pescoço... Mamãe eu quero
mamar... Ah, aquele baile!
... O que você pedir ... Seja você quem for... Gabriela, como o Brasil, foi descoberta. Conheceram-se e
viveram felizes, até
que se cansou de ser Amélia e rodou a baiana.
Literalmente.
E de tanto ... Ai! Ai que
saudades tenho da Bahia! ... lá, na terra do Senhor do
Bonfim foram passar o carnaval
seguinte; por conta do que nunca mais foi a mesma.
Descobriu que alegria é também “forte impressão de prazer
causada pela posse de um bem real ou imaginário.” Não teve dúvidas. Saiu vestida
de peixe.
Pouquíssimas plumas; muitos paetês-escamas: proteção para
sua virtual felicidade. E feito aqueles espelhos de porta-da-rua, que
devolvem os desejos a quem os envia, arrasou refletindo a imagem de quem quer que a
olhasse.
“MA-RÁ!” pensou sobre si mesma; enquanto relia, antes de
entregar o samba-enredo: Deu basta ao “ajoelhou tem que rezar”/ A própria
vida já é oração / A entrelinha não é silêncio mudo / Olhe direito, ela diz tudo!. “Aí está parte do samba, ó mestre sala. Agora, a melodia é
com sua alma.”
*Para ser lido ao som de: Pierrô Apaixonado (Noel Rosa e
Heitor dos Prazeres); Maria-vai-com-as-outras
(Toquinho e Vinicius de Moraes); Mamãe eu quero (Jararaca e
Vicente Paiva); Noite dos Mascarados (Chico Buarque);Saudades da Bahia (Dorival Caymmi).
Wanilda Meira Costa Borghi, avó,
conheceu o Grupo Experimental recém- nascido. É se encantou, afinal, ali se reencontrou. Por ele, tanta luta, tanto amor, gratidão. Criou a logomarca do Grupo, que, a partir de então, foi batizado de GE. Desenhou várias capas de Experimentânea.
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