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Hélio Consolaro - AAL- Deixar o outro viver


Deixar o outro viver


Se alguém lhe perguntasse: qual é a sua ética? Quantos pensamentos borbulhariam em sua cabeça...

Moisés entregou ao povo hebreu os dez mandamentos, onde se misturavam moral e ética. Amar o próximo como a si mesmo é um princípio ético, que norteia comportamentos em todas as áreas da atividade humana; não cobiçar mulher alheia já é moral, porque está restrito a uma época, a uma determinada sociedade, na imanência.

Na época do lançamento do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, 1899, o personagem Bentinho era o genro que toda sogra gostaria de ter; e Capitu, uma mulher desavergonhada. Hoje, cem anos depois, Capitu virou o jogo. Bentinho é um crápula, inseguro, ciumento inveterado, enquanto ela é modelo de mulher para nossos dias: esperta, vivaz e com pensamentos próprios. Isso é um julgamento moral do comportamento dos personagens.  

A ética é mais filosófica, mora no coração das pessoas, preocupa-se com a excelência da vida, com a transcendência.
Antigamente, um homem direito e portador de caráter era ser um sujeito sisudo, machista, um estraga-prazer na família. E nem sempre era autêntico, tudo não passava de uma máscara da hipocrisia.

Em nome do futuro, da construção da responsabilidade social, todo comportamento ético de qualquer profissão deve nascer de duas fontes: 
1) vivo e deixo o outro viver ou vivo e tento impedir que o outro viva; 
2) Não faço ao outro aquilo que não quero que me façam ou os outros que se danem.
Nem seria necessário fazer um código de ética, bastaria ter o norte, fazer uma reflexão matinal se olhando no espelho antes de pegar a bolsa e ir para o trabalho. 
   
Ser ético, portanto, é sorrir, expandir alegria, aceitar o outro com suas limitações, compreender os problemas do outro, estar de bem com a vida, sentir parte do mundo, ser otimista sem ser ingênuo como Pollyanna, acreditar no ser humano.
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Apesar de ser uma pessoa feliz, diz não sem hesitar, com tranqüilidade. Conscientiza antes de punir, mas se for necessário, pune sem culpa, quando os princípios estão sendo desrespeitados. Faz isso despojado de autoritarismo e de vingança, mas tomado pelo sentimento de reeducaçãoe transformação, de mostrar ao outro que ele está atrapalhando a sociedade (não deixa o outro viver), explicando-lhe que não faria tal ação se ele mesmo fosse o prejudicado.

Ser fiscal hoje é ser mais um educador do que um cobrador de impostos.


Hélio Consolaro, 70 anos, nasceu em Araçatuba, é professor, jornalista, escritor, membro das academiasde letras de Araçatuba-SP, Andradina-SP, Itaperuna-RJ. Escreveu por 15 anos crônicas diárias em jornais de Araçatuba. Foi secretário municipal de Cultura. Já escreveu seis livros.

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