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Tito Damazo - AAL - A flor

A flor

Uma flor. Objeto tão singular. Tão banal. Tomar de uma flor, ofertá-la a meu amor. Gesto gasto. Contudo sempre grato. Irrefutável agrado. Conquanto seja também uma rima. Mínima. Pobre. Expressão sem expressão.

Uma flor. Sua razão social é de magnitude. Impossível refutar o seu dom de ser grandeza e louro. Estereotipou-a o homem como objeto de beleza superior. Ofertá-la é sempre um gesto de reconhecimento e oferenda. De entrega.

Toda flor esplende. Seu brilho. Os tons de suas cores. A delicadeza de seus tecidos. A maciez. O intenso viço de sua brevidade. O tempo de seu aroma. É a flor palavra, mais que um estereotipado símbolo. Uma infinda metáfora. Uma renovável metáfora. Já são metáforas tantas. És uma flor: primeira e mais corriqueira delas. Mas muito viva.

As flores estandardizadas: a flor da idade; a fina flor; flor que não se cheira; a flor da intelectualidade; a flor do magistério. Inumeráveis as muitas flores que a língua popular determinou: flor d’água; flor-da-noite; flor-das-almas; flor-da-paixão; flor-de-amores; flor-de-abril; flor-de-maio; flor-de-noivas; flor-do-campo; flor-de-lis; flor-de-são-joão. Tantas são. E as flores outras. Derivadas do olhar poético: a Última flor do Lácio, de Bilac; As flores do mal, de Baudelaire; A flor e a náusea, de Drummond; a flor de Antiode, de João Cabral; a Espanca, Florbela.
A enigmática beleza da flor que nos prende. Nos atrai. Sim, que por detrás de seu riso, há um grifo. Um crivo de seu enigma. Sutil e fundo. 

Incomodativo. Tanto que ao homem nunca mais deixou de perturbar. Elegeu-a seu objeto natural mais grácil. Singela relíquia distributiva. Dadivosa, a quem a queira. Não se presta jamais à categorização de classes sociais. É de todos. Em vão, privatizá-la. A flor de estufa se acanha ante a mais simples orquídea tecida por água, sol, ar e pássaros em mata: olhai os lírios do campo.

Essa inexpugnável relação homem-flor. Sim, muito estreita, muito antiga e parece que eterna. A flor a nos servir. Decerto compadecida. Compreensiva. Compassiva. Desta arraigada solidão humana. Empresta-nos a sua essência. Contudo, se reserva a si o mistério de ser bela. Beleza onde e como quer que esteja. Na estufa. No brejo. No lodo. Nos canteiros dos jardins. Das praças. Das casas. Dos edifícios.

Conquanto, às vezes, execre-a as contradições humanas, o místico mistério de sua irresistível atração toma o homem sempre. Perplexo fascínio. Quase sempre tácito.

A flor, com sua comiseração, segue a emprestar-nos a beleza maior e ecumênica: a sua. Enfeite imprescindível às nossas horas. Na hora do consórcio. Na hora do aniversário. Nas horas comemorativas. E na hora de nossa morte. A flor.



Francisco Antônio Ferreira Tito Damazo, nasceu em Avanhandava-SP, licenciado em Letras por Penápolis, mestre e doutor pela Unesp, com quatro livros publicados, colaborador da Folha da Região, acadêmico da Academia Araçatubense de Letras. Professor da UniToledo.

2 comentários:

  1. Tito que maravilha quero escrever como você quando crescer
    Poema simplesmente maravilhoso. Ou prosa poética? Lindo. Lindo. Qto mais eu vejo seus escritos mais o admiro bjs

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  2. Tito que maravilha quero escrever como você quando crescer
    Poema simplesmente maravilhoso. Ou prosa poética? Lindo. Lindo. Qto mais eu vejo seus escritos mais o admiro bjs

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