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Rabindranath Tagore |
A semente de Tagore
Enquanto
estendia seu olhar para além do quadriculado de sua janela, Eumess, ia
imaginando de que formas poderia descrever tudo o que suas retinas recolhiam
das cores, traços, imagens e elementos do espaço aprisionado entre aqueles
batentes.
Os
fios de eletricidade cortavam aquele cenário imaginário, dividindo sua tela
fictícia. De um lado posicionavam os telhados, muros, trechos de árvores,
metade de postes e, em determinados momentos, esfinges humanas, por suas
cabeças. De outro lado, o azul sem igual dos dias de verão, as nuvens
desengonçadas e provocativas que, numa hora eram seres estranhos e casuais, e
em outras, habitantes de seu imaginário mundo fantástico.
Ali,
deitado sobre sua cama, com os olhos voltados para essa composição de desejo,
arte e imaginação, Eumess construía seu futuro envolvimento com o mundo real.
Muito dessa condição fora obtida a partir da leitura de um poeta de nome
complicado e difícil de se pronunciar: Rabindranath Tagore.
Eumess
iniciou suas leituras de R. Tagore a partir de uma coleção de minúsculos
livretos que traziam poesias desse poeta. Talvez, por serem tão pequenos, esses
livrinhos eram tão atraentes para Eumess que os acolheu como elementos de
leitura obrigatória.
O
estilo leve, sensível e belo tocou a mente e a imaginação de Eumess. Todos os
dias, assim que sobravam horas, minutos ou momentos em sua correria de moleque
travesso, Eumess buscava um dos opúsculos de Tagore e deleitava-se com suas
palavras, expressões para descrever o universos e os sentimentos humanos, que,
de alguma forma, tocava o coração quase imaculado de Eumess.
Essa leitura lírica, coloquial, natural e mesmo contemplativa inundava a imaginação do menino que nunca mais esqueceria
seu mestre indiano, mesmo distante no tempo e no espaço.
Daqueles
lampejos de emoção e sentimento, produzidos pelas leituras do poeta, Eumess principiou a entender que poesia, poema e poeta são parte de elementos
metafísicos e indícios de possibilidades que ultrapassam o mundo real para
aninharem-se na fantasia e na verdade de cada um.
Verdade essa que pertence aos
poetas e visionários, que burilam e transformam palavras em sinais desvendáveis
por cada leitor que mergulha e ascende junto nesse universo indizível, admirável,
inenarrável.
A
simplória janela de Eumess, como
proscênio da inspirada fruição Tagoriana, permanece até hoje na memória, na
vida e na certeza de que o mundo não é um só.
"No dia em que a
flor de lótus desabrochou / A minha mente vagava, e eu não a percebi. / Minha
cesta estava vazia e a flor ficou esquecida. / Somente agora e novamente, uma
tristeza caiu sobre mim. / Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro/ De um
perfume no vento sul./ Essa vaga doçura
fez o meu coração doer de saudade. / Pareceu-me ser o sopro ardente no verão,
procurando completar-se. / Eu não sabia então que a flor estava tão perto de
mim, / Que ela era minha, e que essa perfeita doçura / Tinha desabrochado no
fundo do meu coração.” (Rabindranath Tagore) [1]
Rabindranth
Tagore nasceu em Calcutá, na Índia. Foi poeta, romancista, músico e dramaturgo.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1913, era chamado de “Grande Mestre”
por Gandhi. Reformulou a literatura e música bengali no final do Século 19 e
início do Século 20. [2]
Reinaldo Mauá Júnior – educador por opção, escritor por afeição. Venceslauense por nascimento, araçatubense por adoção. Nascido no ano do Jubileu “do grande retorno" e do grande perdão. O tempo só faz estimular e provocar minha emoção. Participante do Grupo Experimental por pura deleitação.
E-mail: reymaua@hotmail.com
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