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José Hamilton Brito - GE - Veneza de meus sonhos


Praça de São Marcos - Veneza - Itália

Veneza de meus sonhos

Roberta, a vida inteira ficou repetindo: um dia vou conhecer Veneza.

Ocorre que era um sonho que ela sabia  ser praticamente impossível; afinal, nem classe média ela era.

Mas como sonhar pouco é pura perda de tempo, sonhava alto mesmo. O mais que pudesse.

E assim levou a vida, esforçando-se, trabalhando e estudando , dando o máximo do seu esforço.

-Menina, dá para você parar de falar tanto nesta tal de Veneza, já encheu o saco!

-Mãe, não posso esquecer um segundinho do que mais quero na vida.

-Ah! Conversa fiada. Trata de se formar e arruma logo um marido pra apagar este seu fogo. Você está precisando é de um homem, criatura.

Roberta sorriu e pensou:

-Vou mesmo arrumar um homem. Mas um que cante Dio como te amo em italiano fluente e sem sotaque só para mim....De preferência, em plena praça de São Marcos, tarde da noite pois  aproveito e dou um amasso no desgraçado para ele sentir no osso o que uma baiana tem. Apaga o meu fogo e eu o dele.

Formou-se.

Com tanto brilhantismo que a universidade a convidou para fazer um estágio sobre desenvolvimento de células tronco em um lugar a escolher: Berlim,  Beirute  – país dos ancestrais da Célia  Villela ou....Ou....Roma.

Em Roma ficou uma semana acertando os detalhes da sua permanência, do seu trabalho e como teria ainda uns dias de folga foi para onde?

Após informar-se optou  por  ir de  trem. Assim, chegou à estação ferroviária  de Santa Luccia  e foi andando bem devagar,  percorrendo o Grande Canal até chegar à Fachada de Veneza. Como era ainda cedo, não havia muita gente e um silêncio  dava mais encanto ao momento.

Como não conhecia nada, foi perguntando aqui, ora ali e  La Nave...Indo.

Passou pelo Palazzo Ducale e ficou sabendo que dava acesso à Piazza famosa.
Quando chegou na Riva de Schiavoni viu que havia um bom número de turistas.

- Signorina, um gelatto?

Quando deu por conta já era noite e saiu correndo em busca de um lugar para passar a noite.. Indicaram uma pousada que catalogou de simpática e acolhedora.
Como ali funcionava uma cantina e estava faminta , pois o que a alimentava era apenas um gellato, pediu um vitello tonnato, que veio acompanhado de um molho à base de ovo batido, alho e creme de leite. Como cortesia, uma taça de vinho tinto.

Acomodou-se para dormir. Ao longe um violino tocava All di lá . Dormir como?  Não queria perder o encanto do momento.
Logo cedo, após um lauto café da manhã, diga-se, tomado às pressas, foi materializar o seu sonho...conhecer Veneza.

Enfim, Piazza San Marcos.  Descobriu logo a Campanille. Foi ao topo de onde se tinha gloriosa visão, sobretudo porque à direita estava a Basílica de Santa Maria della Salute.

-C’est três jollie!

-Hein! Como?  O que  disse?

-Pardon, você é brasileira. Que bom, eu falo o português. Morei no Leblon alguns anos e agora voltei para Paris....E sou italiano de Veneza.

Roberta pensou:

-A Santa Della Salute é digna do nome. Mandou um gondoleiro esbanjando saúde.
Conhecer a cidade acompanhada por um italiano legítimo,  com aquele sorriso danado, aquele jeito de olhar e de falar ...soube de antemão: ia conhecer Veneza e algo mais.

_ Você está sozinha, aceita um cicerone?
E assim passou a ter um cicerone  que foi mostrando-lhe a cidade.

-Olha aquela livraria, é uma das mais procuradas : Libreria Tolleta.

Foi-lhe mostrado os canais principais e os secundários, as lojas de roupas, os cafés nas calçadas, cheios de turistas; parecia a Torre de Babel de tantas línguas diferentes que se ouvia nas ruas.

Conheceu a Ponte Rialto com sua arquitetura fascinante, com as famosas escadarias .

Foi chegando a noite.

O anoitecer em Veneza, como descrevê-lo...

Conjuntos musicais espalhados ao longo das calçadas. Não havia aquela barulheira típica dos bares e restaurantes da sua Ondina.

-Vamos procurar  um lugarzinho para nos dois, Roberta?

Foram ao famoso Café Florian e ficaram até tarde.

-Faz assim, a gente passa na sua pousada, pegamos as suas coisas e vamos para minha casa.

-Ah! Não sei de devo...

-Deve.

Uai, se devo, vamos.

Conheceu Veneza, o algo mais, o céu...
E aprendeu que em um momento se vive uma vida e que o presente é o único momento que existe.

José Hamilton da Costa Brito, aposentado, pai de Fábio Luís que lhe deu a neta Dra.Letícia e de Luciana Mascarós que lhe deu o neto Dr.Diego e a pequena Pietra. Licenciado pela Instituição Toledo de Ensino em Letras e Direito. 
E-mail: jhamiltonotirb@hotmail.com 

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