Praça de São Marcos - Veneza - Itália |
Veneza de meus sonhos
Roberta, a vida inteira ficou repetindo: um dia vou conhecer
Veneza.
Ocorre que era um sonho que ela sabia ser praticamente impossível; afinal, nem
classe média ela era.
Mas como sonhar pouco é pura perda de tempo, sonhava alto
mesmo. O mais que pudesse.
E assim levou a vida, esforçando-se, trabalhando e estudando
, dando o máximo do seu esforço.
-Menina, dá para você parar de falar tanto nesta tal de
Veneza, já encheu o saco!
-Mãe, não posso esquecer um segundinho do que mais quero na
vida.
-Ah! Conversa fiada. Trata de se formar e arruma logo um
marido pra apagar este seu fogo. Você está precisando é de um homem, criatura.
Roberta sorriu e pensou:
-Vou mesmo arrumar um homem. Mas um que cante Dio como te
amo em italiano fluente e sem sotaque só para mim....De preferência, em plena
praça de São Marcos, tarde da noite pois
aproveito e dou um amasso no desgraçado para ele sentir no osso o que
uma baiana tem. Apaga o meu fogo e eu o dele.
Formou-se.
Com tanto brilhantismo que a universidade a convidou para
fazer um estágio sobre desenvolvimento de células tronco em um lugar a
escolher: Berlim, Beirute – país dos ancestrais da Célia Villela ou....Ou....Roma.
Em Roma ficou uma semana acertando os detalhes da sua
permanência, do seu trabalho e como teria ainda uns dias de folga foi para
onde?
Após informar-se optou
por ir de trem. Assim, chegou à estação
ferroviária de Santa Luccia e foi andando bem devagar, percorrendo o Grande Canal até chegar à
Fachada de Veneza. Como era ainda cedo, não havia muita gente e um
silêncio dava mais encanto ao momento.
Como não conhecia nada, foi perguntando aqui, ora ali e La Nave...Indo.
Passou pelo Palazzo Ducale e ficou sabendo que dava acesso à
Piazza famosa.
Quando chegou na Riva de Schiavoni viu que havia um bom
número de turistas.
- Signorina, um gelatto?
Quando deu por conta já era noite e saiu correndo em busca
de um lugar para passar a noite.. Indicaram uma pousada que catalogou de
simpática e acolhedora.
Como ali funcionava uma cantina e estava faminta , pois o
que a alimentava era apenas um gellato, pediu um vitello tonnato, que veio acompanhado de um
molho à base de ovo batido, alho e creme de leite. Como cortesia, uma taça de
vinho tinto.
Acomodou-se para dormir. Ao longe um violino tocava All di
lá . Dormir como? Não queria perder o
encanto do momento.
Logo cedo, após um lauto café da manhã, diga-se, tomado às
pressas, foi materializar o seu sonho...conhecer Veneza.
Enfim, Piazza San Marcos.
Descobriu logo a Campanille. Foi ao topo de onde se tinha gloriosa
visão, sobretudo porque à direita estava a Basílica de Santa Maria della
Salute.
-C’est três jollie!
-Hein! Como? O
que disse?
-Pardon, você é brasileira. Que bom, eu falo o português.
Morei no Leblon alguns anos e agora voltei para Paris....E sou italiano de
Veneza.
Roberta pensou:
-A Santa Della Salute é digna do nome. Mandou um gondoleiro
esbanjando saúde.
Conhecer a cidade acompanhada por um italiano legítimo, com aquele sorriso danado, aquele jeito de
olhar e de falar ...soube de antemão: ia conhecer Veneza e algo mais.
_ Você está sozinha, aceita um cicerone?
E assim passou a ter um cicerone que foi mostrando-lhe a cidade.
-Olha aquela livraria, é uma das mais procuradas : Libreria
Tolleta.
Foi-lhe mostrado os canais principais e os secundários, as
lojas de roupas, os cafés nas calçadas, cheios de turistas; parecia a Torre de
Babel de tantas línguas diferentes que se ouvia nas ruas.
Conheceu a Ponte Rialto com sua arquitetura fascinante, com
as famosas escadarias .
Foi chegando a noite.
O anoitecer em Veneza, como descrevê-lo...
Conjuntos musicais espalhados ao longo das calçadas. Não
havia aquela barulheira típica dos bares e restaurantes da sua Ondina.
-Vamos procurar um
lugarzinho para nos dois, Roberta?
Foram ao famoso Café Florian e ficaram até tarde.
-Faz assim, a gente passa na sua pousada, pegamos as suas
coisas e vamos para minha casa.
-Ah! Não sei de devo...
-Deve.
Uai, se devo, vamos.
Conheceu Veneza, o algo mais, o céu...
E aprendeu que em um momento se vive uma vida e que o
presente é o único momento que existe.
José Hamilton da Costa Brito,
aposentado, pai de Fábio Luís que lhe deu a neta Dra.Letícia e de Luciana
Mascarós que lhe deu o neto Dr.Diego e a pequena Pietra. Licenciado pela
Instituição Toledo de Ensino em Letras e Direito.
E-mail: jhamiltonotirb@hotmail.com
E-mail: jhamiltonotirb@hotmail.com
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